13 de mar. de 2010

Sobre Mesas

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Ontem sai com alguns amigos destes muito próximos, com os quais você se sente em casa independente de onde esteja, sabe?! Fomos a um típico ‘buteco’: mesa de madeira na calçada, cadeira um pouco desconfortável, ambiente escurecido, cerveja trincando e comida gorda, daquela que dá água na boca só de ler o cardápio.

Enquanto esperava por eles, não sabia bem o que fazer comigo. Inquieta; observava as pessoas ao redor, lia e relia o cardápio, olhava constantemente a hora no celular, mandava mensagens... A única coisa que fazia com um pouco mais de parcimônia era tomar minha cerveja (porque caso contrário corria o risco de já estar bêbada quando eles chegassem).

Todos vieram praticamente ao mesmo tempo; e eu, virei outra pessoa! Uma muito mais parecida comigo e de quem gosto muito mais. Era só sorriso e brincadeira, e até as preocupações se transformaram em motivos de piada.

Na nossa mesa havia de tudo: gente que bebe e que não bebe; cristãos e pagãos; corintianos, são-paulinos e palmeirenses; carnívoros e vegetarianos. Mas, acima de tudo, havia uma total inexistência de rótulos e julgamentos. Ninguém “devia ser ou fazer” diferente; ninguém queria que o outro fosse algo que não ele mesmo. Não havia estresse ou cobrança, e nem na hora da conta o clima mudou.

Enquanto estive com eles, esqueci o resto do boteco, esqueci o celular-relógio. Para mim, o tempo desapareceu! Eu estava exatamente onde queria e devia estar! Presente! Inteira!

E é exatamente por tudo isso que eu sou uma apaixonada por mesas... Não o objeto, o símbolo!

Seja de boteco, de casa, de restaurante, de café, de refeitório, de república, de jardim; a mesa é o lugar onde existiu presença e partilha, igualdade, calor humano, nutrição de corpo e alma.

Além disso, mesa é sempre lugar de gentilezas... “deixa que eu sirvo”, “me passa o sal, por favor?”, “alguém quer mais um pedacinho?”, “nossa, que delícia, você precisa me dar essa receita!”, “deixa que eu lavo, afinal você teve todo o trabalho de cozinhar”, “opa, passa o copo aqui que ele não pode ficar vazio”, “cadê o pano de prato pra enxugar a louça?”, “trouxe esse vinhozinho para gente tomar com a pizza”, “ou, precisa de ajuda?”, “tchi considero pra caramba, viu”...

Uma mesa bem vivida é uma memória que permanece, mesmo que as pessoas não estejam mais lá, ou que o momento já tenha passado. Ela sobrevive à distância de oceanos. E olha que eu posso falar isso com a propriedade de quem chama conversas no Skype de “tomar um café” só porque um dia elas foram conversas e cafés de verdade. Momentos de mesa.

Mesas que têm pouco a ver com o tipo ou a quantidade de comida ou a bebida que você ingere, e muito com a forma como você o faz. Uma mesa bem vivida transforma seus participantes, alimenta a alma, adoça a vida, abre espaço para novos conhecimentos, proporciona cura, acalma anseios, estabelece elos.

Na minha família, um cafezinho quase nunca é só um cafezinho e um almoço de domingo sempre acaba se transformando em um mini-evento. E é por isso que eu não me conformo de almoçar na frente da TV ou do computador. E é também por isso que eu insisto tanto em almoços, happy hours e jantares; cafés reais e virtuais; eles sempre fizeram e fazem meu agora muito melhor!

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