21 de mai. de 2010

A gentileza de um toque

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Essa semana, eu recebi uma apresentação com um texto do livro "O poder de um toque" da autora Plyllis K. Davis; sobre a importância do toque nas diversas fases da vida de uma pessoa (copiado abaixo).

Assim que terminei de lê-lo pensei o quanto sou feliz de ter nascido em um país (e em uma família) em que o toque, o abraço, o carinho, o beijo é valorizado e aprendido desde muito cedo. E lembrei algumas situações em que isso ficou muito claro:

Minha recepção em um aeroporto europeu.
Imagine a cena: eu toda feliz desembarcando pela primeira vez sozinha na Europa para um evento de doadores de sangue. Ela, uma voluntária dinamarquesa com uma cara super amigável e uma plaquinha com meu nome. Claro, que assim que processei meu nome o primeiro impulso foi o de ir cumprimentá-la com um abraço. Qual não foi a minha surpresa ao sentir que a rigidez e confusão da pobre. “Será que estou com o desodorante tão vencido assim?” (pensei); mas logo percebi que era ela que não tinha idéia de como responder ‘àquilo’ então ficou parada esperando a ‘pessoa brasileira sentimental maluca’ (eu) ‘terminar’.

Uma conversa entre duas moças brasileiras e dois gajos portugueses.
Cena: eu e uma amiga tentávamos explicar a eles que era comum dar beijos de boa noite em nossos pais; que as crianças eram incentivadas (se possível desde as fraldas) a beijarem seus tios, avós, primos, etc; e que amigos não se constrangiam ou confundiam com se abraçar, beijar, tocar.
Diálogo:
Eles (assustados): “mas como vocês sabem a diferença?”
Nós (surpresas): “que diferença, menino?”
Eles: “Como vocês sabem que as pessoas não estão interessadas em vocês?”
Nós (um pouco confusas): “A gente sabe, ué?”.
E para explicar que é tudo uma questão de detalhes sutis! A intensidade do toque, linguagem corporal, olhares, sorrisos... Oras um xaveco é muito diferente de um carinho entre amigos. Não é OBVIO? Pra eles não era!

Um ano na Inglaterra e eu quase morrendo de inanição de toque.
Entenda o contexto: Ao contrário do que diz a lenda, os ingleses não são frios. Mas culturalmente eles têm uma forma diferente de demonstrar cuidado (normalmente fazendo uma xícara de chá), que não inclui tocar. Não que as pessoas não se abracem, mas é que você precisa primeiro descobrir quem são os “abraçadores” e aí, a gente, na preocupação de constranger alguém, perde essa espontaneidade gostosa de já chegar abraçando, cumprimentando com beijo.
Lembro de comentar o quanto um bom abraço me fazia falta em um evento após assistir este vídeo fantástico: http://www.youtube.com/watch?v=vr3x_RRJdd4 sobre essa campanha fantástica de abraços gratuitos. Resultado: ganhei abraços todos os dias e o negócio pegou. Eram pessoas gentis.

Tudo isso só para dizer que quando li o texto, nem havia pensado no blog. As últimas semanas foram exaustivas! Sem perceber, quase um mês se passou sem eu escrever ou mesmo pensar muito no assunto. Quem me chamou a atenção foi minha tia.

E olha, quanto mais pensava, mais concordava com ela! Primeiro porque se tem algo me mantém razoavelmente equilibrada quando estou passando por momentos turbulentos são demonstrações de carinho. Toques, beijos e abraços de atenção e apoio são gentilezas incomensuráveis. E acho impossível não se entregar ao momento, não estar 100% presente quando o carinho é óbvio e espontâneo. Eles têm essa capacidade de relaxamento instantânea. Tiram a tensão e trazem um sorriso no ato! Fazem nosso agora muito melhor. E quer saber, vicia! Aquela moça do aeroporto se tornou uma amiga querida que sempre me abraça forte quando nos encontramos.

Juro que eu poderia fazer uma tese de mestrado sobre o assunto, mas só quero mesmo deixar uma idéia! Faça seu dia melhor: abrace, beije, toque, faça massagem, dê apoio, cuidado, carinho a alguém! Mas faça sem receios, sem frescuras, sem medo de ser feliz e de fazer o outro feliz. Se entregue a esse momento e o curta o máximo possível. Depois me conte se isso fez seu agora melhor ou não! Eu sei lá, mas acho que fará e acredito que pessoas mais felizes têm mais energia para provocar mudanças e fazer um mundo mais feliz!


Segue o referido texto:

Me toque - Plyllis Davis

Se sou seu bebê,
Por favor, me toque.
Preciso de seu afago de uma maneira que talvez nunca saiba.
Não se limite a me banhar, trocar minha fralda e me alimentar,
Mas me embale estreitado, beije meu rosto e acaricie meu corpo.
Seu carinho gentil, confortador, transmite segurança e amor.

Se sou sua criança,
Por favor, me toque.
Ainda que eu resista e até o rejeite.
Insista, descubra um jeito de atender minha necessidade.
Seu abraço de boa noite ajuda a adoçar meus sonhos.
Seu carinho de dia me diz o que você sente de verdade

Se sou seu adolescente,
Por favor, me toque.
Não pense que eu, por estar quase crescido, já não precise saber que você ainda se importa.
Necessito de seus braços carinhosos, preciso de uma voz terna.
Quando a vida fica difícil, a criança em mim volta a precisar.

Se sou seu amigo,
Por favor, me toque.
Nada como um abraço afetuoso para eu saber que você se importa.
Um gesto de carinho quando estou deprimido me garante que sou amado, e me reafirma que não estou só. Seu gesto de conforto talvez seja o único que eu consiga.

Se sou seu parceiro sexual,
Por favor, me toque.
Talvez você pense que sua paixão basta, mas só seus braços detêm meus temores.
Preciso de seu toque terno e confortador, para me lembrar de que sou amado apenas porque eu sou eu.

Se sou seu filho adulto,
Por favor, me toque.
Embora eu possa até ter minha própria família para abraçar,
Ainda preciso dos braços de mamãe e papai quando me machuco.
Como pai, a visão é diferente, eu os estimo mais.

Se sou seu pai idoso,
Por favor, me toque.
Do jeito que me tocaram quando eu era bem pequeno.
Segure minha mão, sente-se perto de mim, dê-me força,
E aqueça meu corpo cansado com sua proximidade.
Minha pele, ainda que muito enrugada, adora ser afagada.

NÃO TENHA MEDO, APENAS ME TOQUE....